E daí que eles capturam os meus fatos? Minha vida não é tão curioso sendo assim. Eu não possuo nada a camuflar. Você agora tem que ter dito isto a si próprio. Mas será que você não tem, mesmo, nenhum segredo? Então toque a campainha do teu vizinho, ou bata nas costas de um amigo de serviço, e responda quanto você ganha por mês. Conte para o seu chefe que você anda buscando emprego na concorrência e, no elevador, no momento em que alguém puxar discussão, revele tudo a respeito os seus fetiches sexuais.
No restaurante, no decorrer do almoço, responda bem alto sobre isso os defeitos de saúde mais constrangedores que você neste instante teve – ou, na falta deles, a respeito do dia em que você traiu teu cônjuge. Toda gente tem segredos. Exceto para o Google, que detém todas as informações acima. Ele grava as tuas buscas, e assim sabe quais são seus interesses – e medos – mais íntimos. Sabe todos os websites que você acessou.
Lê os seus emails do Gmail. O Google também aciona o microfone do teu smartphone e escuta tudo o que você diz, inclusive até quando não está utilizando o aparelho. E de ter que contar com o excelente senso de uma corporação pra que esses fatos não fossem usados? “O propósito desta vigilância é fazer manipulação psicológica pra te persuadir a obter produtos”, diz o criptógrafo americano Bruce Schneier, autor de doze livros a respeito segurança digital.
Você domina: no momento em que procura algum artefato no Google, ou checa teu valor num web site de comércio eletrônico, começam a pipocar anúncios daquilo no Facebook, no Instagram (que é do Facebook) e em todos os blogs que você acessa. Isso acontece visto que, e também supervisionar a tua navegação e saber muito a teu respeito, Google e Facebook controlam as propagandas da web. O Facebook vende os anúncios que aparecem pela timeline, e o Google gerencia os banners exibidos pela maioria dos sites. 150 bilhões por ano. E não estão sozinhos.
Você não vê, entretanto os seus passos pela web bem como são monitorados por mais de 2 1 mil corporações de marketing digital. Suponha que você acorde, pegue o celular e entre no portal UOL para visualizar as notícias. Antes que você termine de ler a manchete, 24 empresas ficarão sabendo da visita. Você só acessou dois web sites, contudo teve seus movimentos rastreados por 43 companhias de marketing online. É então na internet inteira: mais de 80% dos websites estão conectados a ao menos um sistema de monitoramento (um tracker).
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A internet se transformou em uma gigantesca máquina de reunir dados pessoais. E isto só aconteceu visto que um biscoito. Estamos em 1994. Kurt Cobain acaba de se matar e Forrest Gump estreia no cinema. Algumas pessoas têm web em moradia, porém a maioria só acessa no trabalho. O americano Lou Montulli, de 27 anos, trabalhava pela Netscape, organização que acabara de lançar um dos primeiros navegadores.
Sua incumbência era inventar tecnologias pra aperfeiçoar a web. “Um das dificuldades era que os web sites não conseguiam se recordar dos usuários”, conta. Toda vez que você entrasse num site que pede senha, tendo como exemplo, tinha que digitá-la. “Era como falar com alguém que tem Alzheimer: você precisa se expor toda hora”, diz Lou. Em julho daquele ano, logo depois do Brasil ocupar o tetra nos EUA, Montulli planejou a solução: um arquivo minúsculo, com só uma linha de código, que cada site deveria enviar pro computador do usuário. Esse arquivo serviria para reconhecer o computador, evitando que a pessoa tivesse de publicar tua senha.